segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Onde estão os grandes peixes de Abrolhos?

(Pôr do sol em Abrolhos/Foto de Nilson Mello)


    As imagens disponíveis nos três links ao final deste texto são vídeos editados de mergulhos realizados no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, em dezembro de 2010. Foi a terceira vez em que estive em Abrolhos e, confesso, fiquei desapontado por não ter encontrado a explosão de vida que vi nas viagens anteriores, entre 1990 e 1992.
    Cardumes de xaréus e gigantescas barracudas eram atrações certas, não vistas dessa vez. Até mesmo os grandes badejos quadrados, que permaneciam à espreita dos mergulhadores no costão da Ilha Santa Bárbara, desapareceram.
    Como há mais de 20 anos Abrolhos é uma grande área de preservação da vida marinha, prefiro atribuir a ausência dos grandes peixes a fatores sazonais. Afinal, ainda que reconheçamos que a fiscalização possa ser deficiente – a despeito do visível empenho de guardas-parque, demais funcionários do IBAMA e pessoal da Marinha – um controle precário é, evidentemente, melhor do que não haver controle algum. Ou seja, não é possível que os peixes tenham diminuído após a criação da área de preservação.
    Nos vídeos dos links abaixo, o encontro com os grandes cardumes de vermelhão-dentão e budião se dá apenas no mergulho mais raso, na Ilha Siriba. Nos mergulhos dos naufrágios (Rosalinda, Santa Catarina e Guadiana), praticamente não se veem peixes. O que houve com a exuberante vida marinha do Arquipélago nos últimos anos? Biólogos e especialistas com quem conversei não conseguiram desvendar o mistério. Uma explicação seria a influência de "fatores exógenos", ou seja o aumento da pesca e da poluição fora dos limites do parque. A outra, o aumento da pesca ilegal dentro do próprio parque. Nenhuma delas me satisfez.
Criado em 1983, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos tem como missão a preservação da mais expressiva formação de recifes de coral do Atlântico Sul, berçário natural para inúmeras espécies de peixes, crustáceos, moluscos e tartarugas, além de refúgio para a baleia Jubarte, que vem procriar em águas mais quentes nos meses de inverno e primavera na Antártica.
    Com cerca de 90 mil hectares, o parque abriga o Arquipélago de Abrolhos, com as Ilhas Santa Bárbara, Siriba, Redonda, Sueste e Guarita, além de uma extensa região de parcéis - Parcel dos Abrolhos e Recife das Timbebas – maior do que a área da Baía de Guanabara.

(Foto panorâmica do Arquipélago, com Ilha Santa Bárbara à frente. Autor desconhecido)

    A formação geológica das ilhas e sua disposição em semi-círculo indicam terem sido um vulcão, há milhões de anos. A região da plataforma continental em que está situado o arquipélago é extensa e relativamente rasa - o chamado Banco dos Abrolhos. A mais de 100 km da costa, é possível encontrar profundidades inferiores a 30 metros.
    Essas características favoreceram a formação dos recifes de corais, também influenciados pela ocorrência de extensos manguezais no litoral sul da Bahia, cuja produção de material orgânico, levado pelas marés e correntes, é fonte da vida marinha.
    Todas as espécies de corais encontradas no litoral brasileiro estão presentes em Abrolhos. A região tem ainda algumas espécies endêmicas.
O aspecto mais característico de sua formação são os chamados “chapeirões” – estruturas coralíneas que ser erguem de até 25 metros de profundidade até quase a superfície, podendo chegar a 50 metros de diâmetro. Os chapeirões chegam a aflorar na maré mais baixa e representam um grande risco para a navegação.  
    O nome “Abrolhos” não foi dado pelos navegadores portugueses à toa. Desde Américo Vespúcio, primeiro explorador a avistar as ilhas, até os dias de hoje, uma infinidade de embarcações foi a pique ao colidir nos seus recifes. Cerca de 30 desses naufrágios já foram catalogados (ver site Naufrágios do Brasil, de Maurício Carvalho). Três deles (Rosalinda, Guadiana e Santa Catarina) aparecem nos vídeos abaixo.
Com o aumento do tráfego marítimo entre o Brasil e o mundo no século XIX, o governo do Império decidiu construir um farol no arquipélago. Pré-fabricado na França e montado na Ilha de Santa Bárbara em 1861 (prestes, portanto, a completar 150 anos e ainda e operação), esse farol é o segundo de maior alcance no mundo, com seu foco de orientação sendo visível a 51 milhas náuticas. Em noites de tempo bom, a sinalização é vista do litoral.
A torre do farol tem 22 metros altura, e está a 60 metros de altitude, no ponto culminante de Santa Bárbara. Mesmo com o avanço da navegação e o aperfeiçoamento de equipamentos como GPS e ecosondas, continua a ter importância para a navegação, sobretudo na orientação das pequenas embarcações pesqueiras.

LINKS
Na parte I dos links abaixo, pode-se ver o embarque em Caravelas (BA) - ponto na costa mais próximo do parque - a navegação de quase 70 km até o arquipélago e os mergulhos na Ilha Siriba e nos naufrágios do Rosalinda e do Santa Catarina. Nas partes II e III dos links estão as imagens do Guadiana.
O Guadiana era um paquete (navio de carga e passageiros) pertencente à Royal Mail Steam Paket Company. Seguia do Rio de Janeiro para Nova York levando a bordo 1,8 toneladas de café e 45 passageiros. Movido à vela e a vapor, colidiu com um “chapeirão” ao norte da Ilha Santa Bárbara, às 7h do dia 20 de junho de 1885, dois dias após ter zarpado do Rio. Ninguém morreu. Está a 27 metros de profundidade.
O Santa Catarina (imagens do primeiro link) era um cargueiro alemão. Foi colocado a pique pelos britânicos em 1914, durante a I Guerra Mundial. Com 106 metros de comprimento (14,4 metros de boca), havia zarpado de Montevidéu com destino à Alemanha. Ao longo do litoral brasileiro, foi perseguido por uma flotilha britânica liderada pelo cruzador Glasgow. Na altura de Vitória, foi aprisionado e levado para as proximidades de Abrolhos, onde foi incendiado. Sua carga foi retirada e seus tripulantes aprisionados. Está a 27 metros de profundidade.
O Rosalinda, por sua vez, era um cargueiro italiano de 104 metros. Naufragou ao colidir com os recifes, em outubro de 1955. Está a cerca de 20 metros de profundidade. Bons mergulhos!

Abrolhos (Parte I)


Abrolhos (Parte II)


  
Abrolhos (Parte III)

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